Diplomacia brasileira vê na abertura da investigação comercial do USTR uma estratégia de Trump para recuar da tarifa sem admitir derrota política
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A diplomacia brasileira acredita ter encontrado uma brecha para Donald Trump recuar da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada no dia 9 de julho. Segundo fontes do Itamaraty e interlocutores do governo Lula, a investigação aberta pelo USTR (Representante de Comércio dos EUA) pode ser a saída honrosa que o ex-presidente americano buscava.
Trump, pressionado por repercussão negativa nos EUA, busca um caminho para manter o discurso duro sem, de fato, aplicar a tarifa que prejudica diretamente o bolso dos americanos. Vale lembrar que 70% do suco de laranja e 1 a cada 3 cafés consumidos nos EUA vêm do Brasil. Com a tarifa, o café da manhã americano ficaria até 50% mais caro.
Como já revelado, Trump justificou a tarifa em três pilares:
Defesa de Jair Bolsonaro, que chamou de vítima de “caça às bruxas” no Brasil;
Críticas ao STF brasileiro, por decisões contra fake news nas redes sociais, que segundo Trump afetariam a “liberdade de expressão” de empresas americanas;
Déficit comercial com o Brasil – o que é falso, já que os EUA têm superávit comercial com o Brasil desde 2008.
“Eu faço porque eu posso”, disse Trump ao ser questionado pela imprensa sobre as tarifas.
A tarifa foi claramente uma retaliação política. O movimento foi apoiado por figuras como Steve Bannon, que chegou a dizer: “derrubem o processo contra Bolsonaro, derrubamos as tarifas” — deixando claro que se tratava de uma chantagem diplomática com motivação ideológica.
O USTR abriu uma investigação com base na Lei de Comércio de 1974, o que, segundo especialistas, suspende a imposição imediata das tarifas até que um relatório técnico seja concluído. Isso pode levar meses ou até anos.
Segundo um embaixador brasileiro envolvido nas tratativas:
“Agora que ficou claro que o Brasil não vai negociar Constituição nem Judiciário, Trump precisa de uma saída honrosa para evitar a alta de preços no café e no suco de laranja dos americanos.”
Esse movimento de Trump não é novo. Ele já recuou de tarifas outras vezes, e por isso ganhou o apelido nos EUA de TACO — Trump Always Chickens Out (Trump sempre amarela), o que o enfurece politicamente.
O governo brasileiro aposta que a pressão doméstica e o temor do impacto inflacionário vão enfraquecer Trump. Além disso, sem justificativa técnica, a tarifa pode ser anulada nas cortes americanas — o que já ocorre com parte do chamado “tarifaço” anterior de Trump.
Com a investigação em andamento, Trump poderá alegar que aguarda os resultados técnicos para definir se aplica as tarifas, ganhando tempo e tirando o foco da polêmica.
A investigação também permite que a tarifa seja direcionada a setores específicos, como big techs ou etanol, e não mais sobre todos os produtos brasileiros.
Com isso, Trump mantém a pressão política sobre o Brasil, sem enfrentar o impacto direto sobre os consumidores americanos — especialmente em ano pré-eleitoral nos EUA, onde inflação é tema sensível.
A manobra de Trump tem motivação política clara: defender Bolsonaro e atacar o STF. Mas a resposta do governo Lula tem sido firme, sem abrir mão da soberania nem ceder à chantagem. A abertura da investigação é uma vitória parcial da diplomacia brasileira, que consegue enfraquecer o impacto direto da tarifa e ganhar tempo para negociar — sem abaixar a cabeça.
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