Supostas conexões entre o prefeito e membros de milícia preocupam moradores
Uma operação do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ) deflagrada no dia 29 de abril de 2025 expôs novamente a atuação de milícias em Belford Roxo. Segundo o Ministério Público, os milicianos não apenas extorquiam moradores, mas também os expulsavam de suas casas e influenciavam diretamente em eleições locais. Dois homens foram presos e seis já estavam encarcerados. Os chefes da quadrilha, Jefferson Damázio Luquetti, o “Kim do Babi”, e Herbert da Conceição Heleno, o “Kibe”, seguem foragidos.
O grupo, segundo a investigação, mantinha contato com agentes do 39º Batalhão da Polícia Militar e, conforme apurado, havia corrupção direta para que os milicianos atuassem livremente na região.
Em meio às revelações, imagens divulgadas pela imprensa mostraram o prefeito de Belford Roxo, Márcio Canella (União Brasil), durante um evento de campanha, cumprimentando Jefferson “Kim do Babi”. O encontro ocorreu na quadra da escola de samba Inocentes de Belford Roxo em junho de 2024. Kim aparece cercado por homens vestidos de preto, o que gerou forte repercussão.
Embora Canella tenha afirmado não conhecer o homem, o episódio gerou dúvidas sobre a proximidade entre o grupo criminoso e agentes políticos da cidade. Até o momento, não há confirmação de envolvimento direto do prefeito nas práticas ilícitas da milícia. Contudo, os registros levantam um alerta.
Outro ponto que intensifica a preocupação da população é a escolha de nomes para cargos importantes na gestão municipal. Canella nomeou dois ex-vereadores já investigados por envolvimento com milícias: Fábio Augusto de Oliveira Brasil (Fabinho Varandão) e Eduardo Araújo.
Fabinho Varandão foi nomeado secretário de Esportes. É réu por extorsão e porte ilegal de arma de fogo, acusado de liderar um grupo que ameaçava moradores e explorava clandestinamente serviços de internet. Em 2018, foi preso. Em 2022, sua candidatura foi impugnada pelo TSE por conta dos fortes indícios de atuação miliciana.
Eduardo Araújo, atual secretário de Indústria e Comércio, foi condenado a oito anos de prisão por integrar uma milícia na Baixada Fluminense, ligada a uma série de homicídios. Sua candidatura a vereador também foi barrada pela Justiça Eleitoral.
As nomeações foram duramente criticadas por entidades civis, e o Ministério Público Estadual instaurou procedimentos para apurar eventuais ilegalidades ou favorecimentos indevidos.
Em 2023, Canella indicou o delegado Marcus Amin para o cargo de secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Amin recebeu a Medalha Tiradentes a pedido de Canella, o que levantou críticas de membros da oposição. O delegado só assumiu após forte pressão política na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Outro ponto que reforça o debate é o apoio que Canella recebeu nas eleições de 2022 do ex-miliciano Juracy Alves Prudêncio, conhecido como “Jura”, condenado por liderar a milícia “Somos Comunidade”. A esposa de Jura chegou a atuar no gabinete do deputado estadual Márcio Canella na Alerj.
Até o momento, o Ministério Público não imputou responsabilidade criminal direta ao prefeito Márcio Canella. Porém, as associações públicas, a escolha de nomes controversos para seu governo e o registro de imagens em eventos políticos com milicianos levantam dúvidas e preocupações legítimas sobre a influência de grupos criminosos nas estruturas do poder municipal.
Especialistas em segurança pública defendem a necessidade de investigações profundas, respeito à presunção de inocência, mas também de transparência total no trato com figuras públicas.
É essencial que a população de Belford Roxo acompanhe de perto as investigações e cobre posicionamentos oficiais da prefeitura. Políticos devem esclarecer seus vínculos e manter total transparência com os eleitores, principalmente quando se trata de temas tão delicados quanto a segurança pública e a atuação de milícias.
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