Interesse crescente por São João de Meriti levanta suspeitas sobre uso político da agência estadual de transportes
Agências reguladoras estaduais deveriam servir ao interesse público, fiscalizando e melhorando serviços essenciais, como o transporte intermunicipal. Mas no Rio de Janeiro, o que se vê com frequência é o uso dessas estruturas como cabides políticos, espaço de barganha e trampolim para interesses eleitorais.
É o caso da Agetransp, a agência que regula os serviços de transporte aquaviário, ferroviário, metroviário e rodoviário. Recentemente, dois de seus conselheiros passaram a demonstrar forte interesse por municípios da Baixada Fluminense, especialmente São João de Meriti — e isso tem causado burburinho nos bastidores da política fluminense.
Suplente de deputado federal, Charles atualmente ocupa o cargo de conselheiro da Agetransp. O que chama atenção é que suas falas e movimentações recentes indicam grande preocupação com São João de Meriti, mesmo sem relação clara com a fiscalização dos precários serviços de transporte intermunicipal na região — que é, justamente, a sua função institucional.
Ex-presidente do Detran, Konder assumiu a presidência da Agetransp e também passou a olhar com atenção especial para Meriti. Sua posição, contudo, é ainda mais estratégica: como presidente da agência, ele tem poder para determinar ações concretas para melhorar o transporte público que atende os municípios da Baixada.
A missão da Agetransp, segundo o próprio governo do Estado, é:
“Regulamentar e fiscalizar as concessionárias e permissionárias de serviços de transporte no estado, garantindo qualidade, regularidade, continuidade, eficiência e segurança.”
Na prática, isso significa que cabe à agência:
Monitorar e fiscalizar as empresas de ônibus intermunicipais
Exigir cumprimento de horários, segurança e qualidade nos veículos
Aplicar sanções em caso de falhas
Propor melhorias técnicas para a rede
Nenhuma dessas funções envolve articulações políticas ou atuação em campanhas eleitorais.
O interesse dos dois conselheiros pela política local de Meriti levanta suspeitas sobre o uso político das agências reguladoras, que deveriam estar distantes das disputas eleitorais e focadas na garantia de bons serviços à população.
É importante lembrar que os conselheiros não foram eleitos pelo povo, e sim indicados por grupos políticos. Portanto, qualquer tentativa de interferência em decisões que cabem aos prefeitos — os verdadeiramente eleitos — fere os princípios da democracia e da legalidade administrativa.
Se Charles Batista e Adolpho Konder quiserem contribuir de fato com São João de Meriti e a Baixada Fluminense, o caminho é claro: cobrar melhorias, punir concessionárias ineficientes e garantir transporte digno para a população.
Fora disso, o que se vê são movimentações políticas disfarçadas de preocupação técnica — algo que precisa ser vigiado de perto pela sociedade e pelos órgãos de controle.
O papel de governar é dos prefeitos, eleitos para isso, e o de regular é das agências — sem confundir funções nem misturar interesses.
O Portal de Bel está a disposição dos envolvidos caso queiram se manifestar
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