Prefeitura de Belford Roxo usa atas da cidade de Magé para contratar serviços de iluminação e mobiliário escolar sem nova licitação

Contratos ultrapassam R$ 14 milhões e levantam dúvidas sobre transparência e adequação dos preços para a realidade local

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Na última terça-feira (01/07), o Diário Oficial de Belford Roxo trouxe duas autorizações que chamaram atenção: a prefeitura decidiu contratar serviços de iluminação pública e mobiliário escolar sem realizar licitação própria, utilizando-se do chamado “sistema de adesão a atas de outros municípios” — no caso, da cidade de Magé.

Ao todo, os contratos somam R$ 14.437.941,18 (quatorze milhões, quatrocentos e trinta e sete mil, novecentos e quarenta e um reais e dezoito centavos), divididos da seguinte forma:

  • Iluminação Pública – Empresa Hashimoto Soluções em Energia Ltda – R$ 9.150.328,58

  • Mobiliário Escolar – Empresa ECO 805 Comércio e Serviços – R$ 5.287.612,60

Os contratos foram assinados pelas secretarias de Conservação e Educação, respectivamente.

Mas o que significa isso na prática?

A prefeitura de Belford Roxo utilizou um dispositivo legal previsto no Art. 82 da nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021) chamado adesão à ata de registro de preços de outro ente federativo, popularmente conhecido como “carona”. Funciona assim:

Um município (neste caso, Magé) realiza uma licitação, e outro município (como Belford Roxo) pode “pegar carona” nessa ata e contratar diretamente a empresa vencedora, nos mesmos termos e valores, sem precisar realizar sua própria licitação.

Legal? Sim. Mas ético, transparente e adequado para Belford Roxo?

A prática é legal, desde que:

  • Haja justificativa técnica clara e publicada

  • Seja prevista na legislação local

  • Conte com pareceres da Controladoria e da Procuradoria, como houve nos documentos

No entanto, o que preocupa é o seguinte:

  1. Falta de transparência: a prefeitura não informou publicamente o motivo de aderir às atas de outro município nem apresentou estudos de viabilidade técnica, comparação de preços ou justificativa da urgência.

  2. Realidades diferentes: Magé tem características econômicas, logísticas e operacionais diferentes de Belford Roxo. O que é barato ou adequado para um, pode ser caro ou ineficiente para outro.

  3. População sem acesso à concorrência: como não houve licitação própria, os moradores de Belford Roxo não tiveram a chance de acompanhar o processo, nem empresas locais puderam concorrer.

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Valores milionários e sem explicações

A adesão envolveu valores muito altos para serem tratados com tanta discrição:

  • Mais de R$ 9 milhões em iluminação pública

  • Mais de R$ 5 milhões em carteiras, armários e mesas

Tudo isso sem qualquer divulgação prévia, sem audiência pública, sem debate com a comunidade escolar ou com representantes da sociedade civil.

O que a população deve cobrar da Prefeitura:

  • 📄 Justificativa técnica formalizada da adesão às atas de Magé

  • 📊 Relatórios de preços comparativos, mostrando que os valores estão de fato compatíveis com a realidade de Belford Roxo

  • 🔍 Transparência completa sobre os itens, prazos de entrega, execução e fiscalização dos contratos

  • 💬 Mais participação pública e que o município priorize abrir licitações próprias

E por que isso é ainda mais grave?

A cidade acabou de gastar quase R$ 15 milhões em materiais escolares, quando a maior parte das escolas reclamam da falta de climatização, da estrutura física precária e da ausência de materiais básicos.

Além disso, a Secretaria de Conservação é uma das mais criticadas por não resolver os problemas das ruas e da iluminação pública, e agora adere a uma ata de outro município para um serviço que é básico — e deveria ser fiscalizado com muito rigor.

E mais: nenhum desses contratos foi amplamente divulgado, nem nos canais oficiais da prefeitura, nem nas redes sociais, que normalmente servem apenas para autopromoção.

Sim, a adesão é legal. Mas quando falamos de mais de R$ 14 milhões em contratos, o mínimo que se espera é transparência, fiscalização e participação popular. A prefeitura de Belford Roxo precisa explicar melhor para a população por que não promoveu suas próprias licitações, como os preços foram avaliados, e quais serão os impactos reais desses contratos para a cidade.

Ficar em silêncio, em um caso como esse, não é aceitável.

O Portal de Bel está a disposição dos envolvidos caso queiram se manifestar

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